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Prefeito de Meleiro acusa colegas por não resolver a questão do lixo para sua empresa, se vitimiza e ataca imprensa

‘Não julgueis, e não sereis julgados. Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes […] – Epístola de Mateus 7

 

Quem acompanha meu trabalho nestes mais de 20 anos como comentarista e colunista de política sabe que não costumo escrever em primeira pessoa. Prefiro sempre me colocar de fora dos fatos e contar o que eu consegui apurar, em especial sobre a política em todas suas esferas. Mas, às vezes, preciso ir direto ao ponto.

Começo esta crônica com este ensinamento de Jesus Cristo de Nazaré para dizer que esta é uma prática comum para quem tem “telhado de vidro”. Em geral, sua régua para os outros é sempre bem maior do que aquela que usa para medir suas próprias atitudes. Normalmente, tentam diminuir aqueles com quem estão em embate com eles como forma (rasteira) de se mostrarem fortes, altivos. Portanto, melhor não entrar nesta seara para tentar diminuir meu interlocutor, porque não é do meu feitio.

O prefeito Eder Mattos (PL) cumpriu a promessa e foi à tribuna da Câmara. Usou do artifício de tentar “se fazer de vítima”, no caso da entrega de lixo que Meleiro fez a uma empresa (Ambiental Serra e Mar Coleta e Tratamento de Resíduos Ltda) que está registrada num CNPJ (34.283.332/0001-42) que pertence a ele próprio (Eder Mattos – sócio-administrador), conforme antecipado na matéria da Post TV.

Link para matéria: https://post.tv.br/2024/04/11/empresa-do-prefeito-de-meleiro-recebe-lixo-de-meleiro-isso-pode/

Praticamente confirmou tudo o que foi trazido pela Post TV. Confirmou que leva o lixo de Meleiro para sua empresa para triagem. Conformou que tem acordo com a empresa Racli Limpeza Urbana para receber o lixo já triado (num sistema estranho onde o prefeito tem a empresa, mas a terceirizada paga o pessoal).

Confirmou que está “cobrando dos prefeitos” o cumprimento de um acordo que supostamente ele teria o aval dos prefeitos. Citou ainda que o ex prefeito de Maracajá Arlindo “Lale” Rocha (PSDB à época) havia sugerido pegar por escrito o compromisso.

Eder confirmou que havia apresentado um processo de “desintegração parcial do lixo”, o chamado TERU. Uma fonte diz que se trata da falta de R$ 6 milhões em investimentos que levaram o projeto para a Índia.

 

Atacou o mensageiro, sem negar a mensagem

Na tribuna tentou desqualificar quem o questiona. Caso não incomodasse o teor da crítica do portal que ele se refere como ‘postezinho’, não iria gastar quase uma hora do tempo precioso de pessoas ocupadas como os nove vereadores de Câmara de Meleiro para se explicar. Mas, não é por que ele foi desrespeitoso que irei baixar o nível.

Tanto é verdade que o veículo Post TV tem relevância em Meleiro que cinco vereadores assinaram inicialmente o Pedido de Informação 06/2024 com os questionamentos sobre a entrega de resíduos sólidos de Meleiro em Ermo, em uma empresa de propriedade do prefeito Eder Mattos (PT).

Primeiro assinaram Joel (PP), Jonas (PP), Kaká (PSDB), Geise (PSDB) e Bonfante (PDT), e depois assinaram Nininho (PL), Morgana (PL) e até mesmo o presidente da Câmara Antônio Simoni de Oliveira (PP). Apenas Eloir Córneo (PL) preferiu não assinar.

A sessão completa pode ser vista pelo link:

https://www.facebook.com/liveAVM/videos/751608960410754 ou

https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=245412965321828

 

ERAM SEIS QUESTÕES LEVANTADAS PELOS VEREADORES:

1) Sobre a destinação do lixo – Confirmado pelo próprio prefeito, que alega que fez isso é para resolver a adequação à Lei de Resíduos Sólidos 12305/10, que aperta os municípios a se adequar à nova Política Nacional de Resíduos Sólidos;

2) Tem contrato com empresa para destinar? Pelo que disse há um acordo, INDIRETO com a Racli, uma cessão da Ambiental Serra e Mar. A licitação é para a coleta e destinação final do lixo com a empresa, que faz o transbordo direto em Ermo.  – Alguns municípios entregam lixo no depósito de Ermo (mas não estão no CNPJ da empresa, só o de Meleiro);

3) O caminhão é de Meleiro que estava indo até Ermo para descarregar? Sim, estava.

4) A empresa é do prefeito? Ele confirma, alegando que foi em acordo com prefeitos da gestão 2017 a 2020. E disse que está denunciando os 12 municípios que não estão cumprindo o acordo (exceto Maracajá e Turvo).

5) Há contrato de Meleiro com a empresa?  – Meleiro, segundo o prefeito, terceirou com empresa em seu nome. Alega que esta manobra gera economia de 50%.

6) Qual a frequência das entregas? Pelo que disse o prefeito, 100 toneladas por mês – por três anos Meleiro não pagava, mas agora paga R$ 9.500,00 mensais.

Na réplica dos vereadores, o prefeito Mattos se negou a entregar alguns pedidos aos vereadores documentos para “não fazer baderna na imprensa”. Disse que ele mesmo quer levar os documentos com as assinaturas dos prefeito ao MINISTÉRIO PÚBLICO.

 

Histórias contadas

O prefeito citou uma verba do então deputado Paulinho de R$ 450 mil para ajudar os municípios da Amesc a implantarem sistema de reciclagem de lixo (resíduos sólidos). Cita que daí em diante que começou a ser o “coitado” a ter que correr atrás da solução. Foi o responsável pelo Consórcio multifinalitário da Amesc para buscar a solução. Eder citou um caso de “maus tratos” a trabalhadores que iam até Içara, como argumento para fazer a triagem terceirizada, que é justamente na empresa que ele fez contrato para receber lixo triado.

 

A história mal contada

O prefeito quis posar de vítima, mas como investidor na tal invenção que iria revolucionar o mudo – para acabar com o lixo enterrado, iria ou não ganhar muito dinheiro? Se desse certo entregaria para as prefeituras um projeto que o tornaria um multimilionário?

 

História mal contada

Eder Mattos alega que sua dedicação ao tema aconteceu a partir do pedido dos prefeitos da gestão 2017-2020, mas ele concedeu a seguinte entrevista à jornalista Amanda Garcia Ludwig, do Portal Engeplus, no dia 22/09/2014, quando ele foi candidato a deputado estadual pelo PR e fez 7.442 votos (não se elegeu).

“Meio Ambiente e Lixo: o Governo Federal instituiu uma lei (a Lei dos Resíduos Sólidos 12305/2010) dizendo que o lixo não pode ser enterrado ou queimado. Eles não disseram, no entanto, como os municípios vão resolver isso. Então, já que os municípios são obrigados a se enquadrar nesta questão estão preocupados. A solução para este problema são as instalações de usinas RAD. Fizemos uma minifaculdade em Criciúma e estabelecemos dez projetos pulverizados na região Sul de SC, em que as maiores cidades poderão produzir energia elétrica através destas usinas.”

Isso é uma prova cabal de que o prefeito já pensava em 2014 no tema e não depois porque os municípios o elegeram para ser o “salvador da pátria”.

 

Imprensa amiga?

Sobre o trecho que ele diz: “o proprietário de um site regional, que tentou vender mídia para falar bem da minha gestão e antes do último pleito”, ela cita um colega que já faleceu, foi leviano, e, portanto, não merece nem resposta.

O prefeito Mattos deixou no ar a ideia de que “as mídias que ele paga falam bem de sua gestão”. Como o município tem contratos com várias empresas da região é possível pensar que elas falam bem porque ele paga?

 

Amizade até 31/12?

Quanto aos colegas de imprensa que estão reproduzindo as “verdades do mundo paralelo” que só existe na cabeça do prefeito, só uma palavra: pena. Destes e dos seus “clientes”, porque estes que hoje fazem coro com o prefeito para propagar ataque a um colega de profissão, serão os primeiros a abandoná-los quando estes tiverem que pagar pelas suas “peripécias”. Ou que um “novo cliente” apareça e lhes seja mais favorável. Dia 31/12, fora do cargo, o prefeito passa a ser “cidadão comum”, sem prerrogativa de foro.

 

Jornal não faz pesquisas

O prefeito Mattos distorceu os fatos e submeteu seu vice-prefeito Pedro Luiz (PSD) a um constrangimento usando-o como testemunha de uma mentira, ou no mínimo, distorção dos fatos. O vulgo prefeito mentiu porque o jornal não tem acesso aos números de pesquisas senão momentos antes de divulgar. O poder judiciário, ao final reconheceu a legalidade da pesquisa que ele cita, tanto que, mesmo com a contratação “a peso de ouro” de uma banca poderosa de advogados, o Jornal publicou as pesquisas.

Esta parte final da fala na Câmara merece sim resposta. Muito pelo contrário, essa fama de descredenciado na imprensa não se sustenta, como disse, senão no mundo paralelo que ele vive (um mundo que se pode fazer tudo, em que a lei é relativa). Bastaria falar com os demais 14 prefeitos da Amesc para ver se há qualquer mancha ao trabalho deste jornalista que ele não citou o nome (para não responder a um processo?).

 

Quem tem credibilidade mesmo?

Disse que há tempos conhece este jornalista. E é verdade. Sua empresa de telefonia foi vizinha do Jornal Enfoque Popular na Galeria Elias Jorge Elias, em Araranguá, lá pelo ano de 2010. Tivemos longas conversas ali naquela época, quando eu não o conhecia direito, não sabia de fato o que era capaz.

Ele agora questiona a credibilidade do jornalista. Decerto ele julga que ter credibilidade é fazer, em conluio com outro um veículo de imprensa, uma página falsa de jornal para mentir que era filiado ao PT em 2012 dentro do prazo legal (uma mentira deslavada). Guardei até hoje as duas edições pra mostrar do que ele é capaz. Falo porque posso provar que fabricou a filiação. Desistiu da candidatura, objeto perdido. Mesmo assim, condenado na primeira instância, foi absolvido pelo Tribunal Regional Eleitoral.

 

Para relembrar:

“Advocacia administrativa”. Crime tipificado no Artigo 321 do Código Penal. “Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena – detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único – Se o interesse é ilegítimo: Pena – detenção, de três meses a um ano, além da multa”.