As investigações da Operação Carbono Oculto, conduzida pelo Ministério Público e pela Polícia de São Paulo, revelaram um esquema milionário de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de postos de combustíveis. Embora o foco da operação esteja em São Paulo — onde foram identificados 233 dos 251 postos ligados a investigados —, a amplitude das ramificações do grupo criminoso levanta preocupação também em estados vizinhos, como Santa Catarina.
O cruzamento de dados feito pelo G1 com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que os investigados têm participação direta em empreendimentos espalhados por quatro estados: São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Paraná. A suspeita é de que o modelo de operação — baseado em empresas de fachada e movimentações financeiras abaixo do radar — possa se repetir em outras regiões, especialmente no Sul do país, onde o setor de combustíveis é expressivo e a fiscalização enfrenta limitações estruturais.
Santa Catarina, que possui mais de 3 mil postos ativos, já vinha sendo monitorada por órgãos de controle por movimentações atípicas em distribuidoras e revendas. Autoridades da área tributária e de segurança pública afirmam que o estado pode se tornar um “elo logístico” para o escoamento e a reciclagem de recursos ilícitos, dada sua posição estratégica entre Paraná e Rio Grande do Sul, além da forte circulação de caminhões e combustíveis pela BR-101.

As principais distribuidoras envolvidas nas operações dos investigados — Ipiranga, Rodoil, BR Petrobras e Shell — reforçaram que não são alvo da investigação e que colaboram com as autoridades. A Rodoil, inclusive, tem atuação significativa em Santa Catarina e afirmou que já rescindiu contratos com postos sob suspeita.
Para especialistas em segurança pública, o caso serve de alerta para reforçar os mecanismos de fiscalização tributária e financeira em Santa Catarina, além de intensificar o rastreamento de empresas que movimentam grandes volumes de dinheiro em espécie.
“A expansão do PCC para o setor de combustíveis mostra que o crime organizado se estrutura como uma corporação. E os estados do Sul precisam estar atentos, porque são territórios férteis para esse tipo de operação”, avaliou um investigador ouvido sob reserva.
Para o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, o caso serve de alerta para reforçar os mecanismos de fiscalização no estado.
“Santa Catarina não está imune a esse tipo de crime financeiro. O modelo de atuação do PCC é sofisticado e se infiltra em setores de grande circulação de capital. Por isso, estamos intensificando o cruzamento de dados com a Receita Estadual e a Polícia Federal para evitar que o crime organizado use o território catarinense como base para lavar dinheiro”, afirmou o delegado.
As apurações seguem sob sigilo judicial, mas a Receita Federal estima que mais de mil estabelecimentos em todo o país já tenham sido utilizados pelo esquema criminoso nos últimos anos.