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Até tu, Brutus?

Júlio César não era flor que se cheire, mas sabia jogar o jogo do poder. Roma inteira girava em torno dele, e o Senado já não tinha mais tanta voz. A cada vitória, César ganhava mais prestígio e mais inimigos.
Até que um grupo de senadores decidiu acabar com a festa. O plano ganhou forma: a emboscada foi armada dentro do próprio Senado.
Naquele dia, César entrou confiante. De repente, cercado pelos conspiradores, levou o primeiro golpe. E depois outro. A cena foi caótica: facas para todos os lados, sangue, gritos.
Até certo ponto, ele lutava. Tentava escapar, parecia disposto a sobreviver. Mas então seus olhos cruzaram com alguém que jamais esperava: Marco Júnio Bruto.
Bruto não era apenas mais um senador. A mãe de Bruto, Servília, foi amante de César, e há quem diga que Bruto poderia até ser filho dele — mas nunca houve confirmação.
Apesar de tudo, César confiava em Bruto: chegou a perdoá-lo após lutar contra ele em outra batalha e até o nomeou governador e pretor. Mesmo assim, Bruto acabou se tornando a figura central da conspiração que matou César.
Quando César percebeu que Bruto também estava entre os assassinos, a força foi embora, desistiu da luta e entregou-se aos golpes. E foi Shakespeare imortalizou a frase:
“Até tu, Brutus?”
Essa cena marcou a história não só pelo fim de um imperador, mas pela ferida da traição. A dor do inimigo declarado até se aguenta, mas quando vem de perto, de quem deveria estar ao lado, o golpe é dobrado. Não é só o corpo que sangra, é o coração que se parte.
E cá pra nós, dois mil anos se passaram, mas nada mudou tanto assim. Quem nunca se sentiu como César, tomando facadas que não eram de ferro, mas de palavras? Quem nunca confiou em alguém, abriu a porta de casa, dividiu segredos, para depois descobrir que a lealdade era só fachada?
Perae, perae, perae, vou abrir um parêntese: não, essa crônica não é desabafo pessoal, não estou passando por isso agora. Sei que quando a gente escreve algo assim nas redes sociais, o primeiro pensamento é: “Xiii, ele tá desabafando, alguém aprontou pra ele!” Hehe… mas não, hoje não. Já passei muito por isso no passado — e quem nunca, né?
É que ouvi essa frase “até tu, Brutus?” em tom de brincadeira entre amigos e achei interessante escrever, talvez alguém precise ler isso.
Hoje não temos senadores armados de punhais. O que temos são amigos que viram as costas, parentes que jogam contra, colegas que puxam o tapete. E a dor continua a mesma: a traição é mais insuportável porque vem de quem mais acreditávamos.
Depois do assassinato, Bruto fugiu para a Grécia e, cometeu suicídio. Parece que o traidor sempre se dá um jeito sozinho — ou melhor, trai a si mesmo.
Não é o inimigo declarado que nos derruba, mas o amigo que se junta a ele. O que matou César não foram só as facadas, mas o olhar de Bruto dizendo que ele estava sozinho.
Não dá pra controlar quem nos fere, mas dá pra escolher em quem depositamos nossa confiança. Se a vida nos colocar frente a frente com o nosso próprio “Brutus”, que a gente não desista de lutar só porque alguém próximo falhou. A dor da traição é grande, mas maior ainda é a vida que segue — e o coração que aprende a ser mais forte.