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Troca de sementes leva boas lembranças a produtores

Através do Troca-Troca de Sementes Crioulas, produtores de Jacinto Machado resgatam grãos que difíceis de encontrar e que simbolizam outros tempos da agricultura familiar

Jacinto Machado

Em Jacinto Machado, um projeto tem aproximado agricultores e ajudado na preservação de espécies nativas de grãos. Criado pelo Escritório Municipal da Epagri de Jacinto Machado, o programa Troca-Troca de Sementes Crioulas tem como objetivo fazer o resgate destes grãos cultivados há anos por alguns produtores, que inclusive, herdaram essas sementes de outras gerações. “A gente consegue fazer um resgate dessas sementes e repassar para outros agricultores do município, principalmente as sementes de milho, feijão. Temos de tudo um pouco aqui”, relata Aline Hahn, extensionista responsável.
No escritório há pacotes de todos os tipos, com pequenos grãos de todos os formatos e cores. Arroz de sequeiro, fava, trigo e ervilha são apenas alguns dos tipos expostos para quem quiser ver, mas os que fazem sucesso e enchem os olhos são os tipos diferentes de milho e feijão. “O pessoal vem aqui e se encanta pela quantidade de espécies e cores”, acrescenta. Entre os feijões tem branco, vermelho, rosa e rajadinho, e para quem quer sementes diferentes de milho, há grãos roxos, brancos e azuis, de pipoca, com espigas grandes e pequenas, em uma variedade que não cabe em uma página só.
Dentro do projeto, o agricultor leva as sementes até o escritório e pega para si uma porção. No ano seguinte, ele retorna com parte das sementes produzidas, que são repassadas a outros produtores. “A gente passa e pede que façam essa devolução para que as sementes não fiquem velhas e possamos sempre ter sementes novas. É um trabalho de autoabastecimento, que é aquele alimento para consumo da propriedade, pequenas quantidades, não para a venda”, explica.
Aline conta que a ideia do troca-troca é como outra já existente em outros locais, dos Guardiões de Sementes, pessoas que armazenam estas sementes para que não se percam em meio aos grandes plantios para alta produção. Porém, em Jacinto Machado, a troca é feita entre os próprios agricultores para manter viva a tradição do verdadeiro milho de pamonha, com o sabor incomparável da cozinha das avós de antigamente. “Esse milho crioulo que temos aqui nem se compara o sabor para fazer uma polenta, em relação a esse milho de alta produtividade”, diz.
Não há custo nenhum para participar do programa, basta levar as sementes e compartilhar, ajudando assim a disseminar o conhecimento e os grãos que simbolizam outros tempos da agricultura familiar. “Os produtores relembram. Muitos que não têm mais essas sementes ficam deslumbrados, falam que a avó plantava e não se acha mais, ou pedem sementes para nós. Eu anoto e encaminho quando acho. Isso é muito gratificante, tem tido um resultado muito gratificante. As pessoas reconhecem as questões antigas”, encerra.