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Creches noturnas: demanda pede e município justifica

Com cada vez mais empreendimentos atuando em horários estendidos ou irregulares, trabalhadores sofrem sem ter onde deixar filhos

Só quem trabalha à noite ou precisa estudar e tem filhos pequenos sabe o quão difícil é encontrar com quem deixar os pequenos. Pagar uma babá, para muita gente, fica fora do orçamento, e quando não há nenhum familiar disponível, o jeito é escolher entre trabalho ou faculdade. Para muitas pessoas de Araranguá, essa situação é realidade. Em uma cidade com cada vez mais empreendimentos de grande porte que abrem em horários alternativos, onde deixar os filhos é um problema que dá muita dor de cabeça.

É nesse ponto que uma questão se levanta: e se a cidade tivesse uma creche noturna?

A pergunta já passou pela mente de Bianca Rodrigues, que tem 25 aos e um filho de dois anos. Trabalhadora de um shopping, ela enfrenta problemas quanto à incerteza sobre em que horário vai atuar. “Não tenho horário fixo, e à noite preciso deixar com um parente, às vezes muitos não podem. Seria algo muito com, eu teria com quem deixar sem me preocupar”, explica a vendedora.

Ela ainda argumenta que, a falta de um local que garanta a segurança de seu filho enquanto ela trabalha, atinge também suas colegas que não tem nada a ver com a situação. “Afeta até quem trabalha comigo, que muitas vezes precisa trocar de horário porque não tenho com quem deixar meu filho”, comenta.

A Post TV e Enfoque Popular procurou a secretária de Educação de Araranguá, Ariane Almeida, para que ela comentasse sobre o assunto. Segundo ela, a prefeitura ou a própria Secretaria nunca receberam qualquer pedido de pais para que uma entidade assim existisse no município, já que o serviço oferecido durante o dia consegue atender a demanda. “Não recebemos pedidos, visto que hoje nós atendemos em torno de 90% da demanda em período diurno, temos vagas sobrando em algumas creches, mas que os pais, às vezes, não querem por ser longe”, explica.

Ainda segundo ela, uma creche noturna envolve uma série de fatores que precisam ser discutidos com calma. “A creche noturna é um assunto delicado, por que, como fica o vínculo familiar dessa criança? A creche noturna seria assistencialista. Como um professor trabalharia o pedagógico com a criança no período noturno? Seria mais para ter alguém que dê um jantar e coloque para dormir. O município tem, sim, obrigação de oferecer atendimento diurno, mas a creche noturna é um ponto de interrogação. Não é tão simples quanto se pensa. Nós compreendemos que há trabalhos que são à noite e de madrugada, mas é preciso um olhar para a criança. São vários fatores”, diz.

Ariane defende que poucos municípios no estado dispõem de centros infantis que atendam no período noturno, e que o assunto precisa ser debatido com diferentes setores da sociedade. “É um assunto que tem que ser tratado com toda a comunidade, com o conselho municipal de educação, discutir com a assistência social. É possível conversar, mas não posso dizer que iremos tratar como prioridade. Podemos colocar em uma pauta futura, para começar a averiguar esse pensamento, mas não seria uma prioridade no momento. Seria algo a começar a ser estudado, fazer um levantamento dos pais que trabalham à noite, quantos desses poderiam deixam a criança com um familiar, temos que analisar. Nosso olhar é sempre para a criança, que depende de nós”, declara.

Por fim, a secretária acende uma luz de esperança, mas ela parece ainda muito distante da realidade de quem já precisa de um serviço desse tipo. “A partir do momento em que tenhamos certeza de que essas crianças estariam bem atendidas, teriam complemento diurno e que isso não acarretaria no desenvolvimento infantil, aí sim, poderíamos discutir isso. Sem essa certeza, nosso olhar é para a criança”, conclui.

Atualmente, o setor de educação infantil de Araranguá atende 2.200 crianças em 24 creches e instituições conveniadas espalhadas em toda a extensão do município. As crianças passam até doze horas nos centros, onde recebem acompanhamento pedagógico desde o berçário.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não há uma lei específica que obrigue os municípios a oferecerem creches noturnas para a população, embora a educação infantil seja de responsabilidade municipal.