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Cresce número de microempresas apesar da crise

Só em Araranguá, das 150 empresas registradas em 2019, a grande maioria é considerada micro; empresários enfrentam crise com criatividade e coragem

Quem trabalha no comércio ou lida com as contas de casa vive reclamando dela, a crise financeira. Já faz anos que a situação econômica do país se agrava e piora, mas ao contrário do que se observa na rua, os números apontam para certo otimismo empreendedor. De acordo com o setor de tributos da prefeitura de Araranguá, cerca de 150 empresas foram registradas no município só em 2019, sendo que a enorme maioria são microempresas. Este é o modelo favorito de quem quer ter seu próprio negócio, mas pagando poucos impostos e começando com calma. É o caso das jovens Tainá Pereira Machado e Daiane Florentino Nunes. Apaixonadas por maquiagem, as duas se uniram em um negócio que começou há pouco mais de um mês e já está dando certo. “Para nós, que abrimos agora, não podemos reclamar, estamos bem contentes. Temos muitos clientes e estamos tentando fidelizá-los. Por ser algo novo, as pessoas ficam curiosas para conhecer”, comenta Tainá.

O estúdio de maquiagem que ela possui com a sócia fica instalado mais distante do centro, e atrai clientes que querem o serviço e podem dispor disso perto de casa. As duas possuem outros empregos, por isso só atendem com hora marcada, e para abranger mais público, já pensam em se capacitar. “A área da beleza tem muito nichos para se trabalhar. Trabalhamos com maquiagem profissional e outros serviços, mas queremos, no futuro, trabalhar com unhas e cabelo”, diz.

Quando chegou a hora de abrir mesmo a empresa, veio aquele questionamento: e a crise? É o melhor momento para se abrir uma empresa? Tanto Tainá, como Daiane apostaram no amor pelo que fazem. “A gente tem medo de arriscar, mas sem arriscar não se sabe como vai ser. Pesquisei sobre o mercado, conversei com algumas pessoas, mas acho que o importante é trabalhar com o coração. Fazendo o que se gosta, eu tenho certeza que não tem como não dar certo”, declara.

Assim como ela, Cristiani Da Rolt também puxou o fôlego e foi em frente. Atuando como vendedora há muito tempo, de uma brincadeira, ela se tornou sócia em uma marcenaria com Suzana Pereira Leal e Célio Casagrande Pereira. “Convidei a Suzana, que projetava, brincando e ela levou a sério. Com mais uma pessoa para nos ajudar, nos reunimos e decidimos abrir. Reformamos a fachada, divulgamos a empresa, colocamos mais marceneiros e fomos atrás de projetos. Graças a Deus, a marcenaria hoje está só crescendo”, comemora.

A empresa de móveis planejados existia já há mais de 20 anos, mas faltava divulgação e uma repaginada. Depois disso, em 19 de março deste ano, a marca começou a circular mais e ser mais conhecida pelo público. Cristiani reconhece que trabalho é o que não falta na marcenaria, mas que é visível que muitos projetos estão sendo deixados de lado pelo medo de algumas pessoas de investir. “A crise está complicada, atingindo muitos ramos, e querendo ou não apavora. Todos estão com medo do que acontece daqui em diante”, diz. Ela ainda comenta sobre como manter a empresa nos trilhos mesmo em época de incertezas. “Eu tinha muito medo, pois era tudo novo. Da noite para o dia, de empregada, me tornei dona. É diferente. Mas é só ter os pés no chão, não gastar com coisas supérfluas”, revela.

Segundo análise do presidente da Associação Empresarial de Araranguá e do Extremo Sul Catarinense, a Aciva, André Piestsch, não se pode colocar todas as microempresas na conta da crise. Apesar do perfil desses empreendedores sugerir que muitos resolveram investir em seu sonho de ser patrão após perderem seus empregos por causa da recessão econômica, André destaca que sempre houve e sempre haverá os que sonham com sua própria empresa e só decidiram entrar no mercado agora. “Não acredito que a crise fez com que as pessoas se tornassem mais empreendedoras. Tem pessoas que sempre quiseram empreender, que tem esse espírito, é preciso valorizar isso”, comenta.

Ele também chama a atenção para o volume de empresas registradas na região sul do Brasil, que é maior do que nas outras regiões, algo que reflete o espírito empreendedor que muitos catarinenses têm. Porém, para ser bem sucedido no mundo dos negócios, segundo André, é preciso mais do que vontade. “Acredito que a visão não pode ser abrir a empresa, mas sim se a pessoa está com a mente sadia para isso, com um fluxo de caixa sadio, a capacidade de fazer orçamentos sadios. A saúde da empresa depende do gestor”, acrescenta. André ainda defende que haja uma constante qualificação do dono da empresa, com cursos e palestras, que ajudam a aumentar as chances do negócio dar certo.

Atualmente, a grande maioria das microempresas fecham após nove meses de funcionamento. O Brasil quebrou o recorde do número de empreendedores formais no país em 2018, e conta hoje com mais de 8 milhões de pessoas que decidiram sair do emprego e virar chefes.