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Sem manutenção, barragem do Tenente preocupa

Mato, falta de manutenção e concessão terminada: qual o futuro da barragem de 12 milhões de metros cúbicos que fica no interior de Jacinto Machado?


Jacinto Machado

Aline Bauer

 

Depois da tragédia em Brumadinho, um questionamento foi levantado: qual a situação das barragens do Brasil?

O governo de Santa Catarina começou, junto à Defesa Civil, a apurar isto, analisando documentos e avaliando a situação das estruturas do estado. Porém, não é preciso procurar muito para encontrar alguns problemas.

Em Jacinto Machado, existem duas barragens, mas basta visitar uma delas para perceber que nenhum órgão do governo visita a estrutura já há algum tempo. Apesar da Defesa Civil ter comparecido ao local no início de março, a visita foi apenas para avaliar documentos.

O asfalto da barragem está bastante castigado, com trechos parcialmente esburacados. Há mato crescendo nas emendas do concreto e, apesar de haver um morador responsável por cuidar das atividades, na casa que fica logo abaixo da barragem, faltam serviços de manutenção no local.

A barragem do Rio Leão tem 12 milhões de metros cúbicos, com 172 hectares alagados. Já a barragem que fica em anexo, a do Rio Bonito, possui 8 milhões de metros cúbicos e alagou 81 hectares. A água é captada nas duas barragens pela Cooperativa de Irrigação de Jacinto Machado, a Cooijam, e serve para irrigação, alcançando quase 3 mil hectares. Segundo o presidente da cooperativa, Lucas Belletini, apesar da barragem do Rio Leão necessitar de alguns reparos, a estrutura está funcionando bem. “Dentro do possível está tudo funcionando, há algumas coisas que precisam ser feitas, alguma manutenção, mas nenhum grande problema”, diz.

A cooperativa foi instaurada em 1994, quatro anos antes de ser inaugurada a Barragem do Rio Leão. Já a Barragem do Rio Bonito foi entregue no final dos anos 1980. Mesmo com tantos anos de funcionamento e os sistemas ultrapassados tecnologicamente, Lucas defende que não há com o que se preocupar. “Na medida do possível, sim, a estrutura é confiável”, garante.

Atualmente são 180 associados à cooperativa, de vários municípios da região. A estrutura é do governo do estado, mas foi concedida à cooperativa até o vencimento do contrato, no fim de 2018. Com o fim da concessão do governo à cooperativa, não se sabe ainda quem deve cuidar da barragem. A Defesa Civil está ajudando a entidade a organizar alguns documentos pedidos pela legislação, e que não estavam em consonância com a lei.

Alheio a toda esta burocracia, ali perto da barragem, mora sozinho um senhor que só quer segurança. Seu Ernesto Paganini, do alto de seus 86 anos, admite que não dorme confortavelmente conhecendo de perto a história de sua vizinha. Ele nasceu e cresceu na localidade de Tenente, e inclusive, teve 35 hectares de terra inundados pela barragem. Acompanhou a construção da estrutura de perto, e pelo que viu, não confia na obra. “Demorou dez anos para terminarem a segunda parte, e eu vi que a segunda empresa que assumiu não tinha o mesmo cuidado de classificar os materiais para a obra que a primeira tinha”, relembra ele, relatando que, por conta disso, já há lugares onde a água encontra terra ao invés de pedras. “Já faz quase um ano que eram para vir colocar outras pedras ali, estão lutando agora por isso, juntando documentos”, conta.

Sendo um agricultor aposentado que já viu muita coisa na vida, seu Ernesto repete sempre que questionado: tem medo de uma tragédia acontecer em seu quintal. “Tenho medo porque se nota muitas barragens de fora se rompendo, e pelo que acompanhamos da parte final da construção dessa aqui, a gente fica preocupado”, completa.