Em “O Homem que Explodiu o Presidente” Thiago Barrozo não apenas escreveu uma história; ele construiu um labirinto narrativo onde cada passo é uma descoberta. Logo no início, a confissão de Otelo, o narrador-personagem, reverbera como uma bomba: “Sim, eu explodi o presidente.” Essa declaração não só fisgou a atenção como também mergulhou o leitor em uma trama cheia de reviravoltas, intrigas e questões éticas profundamente inquietantes.
Otelo é um protagonista feito de uma complexidade brutal. Ele não apenas narra os eventos; também nos faz sentir o peso de suas escolhas, o fardo do passado e a incerteza do futuro. A escolha de contar sua história por meio de gravação em fitas adiciona uma camada de tensão – uma corrida contra o tempo em que Otelo, mesmo vivo, já se vê escrevendo um epitáfio de sua vida. A escrita de Barrozo é ágil, descritiva e repleta de nuances, transportando o leitor para o universo particular de Otelo, onde Shakespeare encontra a cruz da vida nas ruas.
O livro brilha na construção de seus personagens. Celebra, por exemplo, é um enigma por si só. Sobrevivente de um linchamento que o deixou com amnésia retrógrada, ele encapsula o drama de quem perdeu tudo, até mesmo a si mesmo. Com sua mania de camisas listradas e um fascínio por Tim Maia, ele é mais que um coadjuvante; é um reflexo do impacto da violência e da marginalização. Já o Bira, com seu pragmatismo rabugento, é um retrato da resistência ao caos.
A ambientação, outro ponto alto, carrega o cheiro de ruas desgastadas e a melancolia de vidas fragmentadas. Seja na pensão em que Otelo tenta se reconstruir, seja nos diálogos que misturam o poético e o brutal, Barrozo cria um cenário vivo e pulsante, que funciona quase como um antagonista na trama.
A história é também uma crítica social afiada, onde cada evento parece dialogar com as mazelas do Brasil contemporâneo: corrupção, desigualdade, violência urbana e a alienação de uma sociedade cada vez mais desiludida. O bilhete premiado da Mega-Sena e a entrada de Vivian, uma jovem preocupada em um esquema de exploração, são peças que desafiam as convicções do protagonista e do leitor, questionando até onde é possível manipular o destino.
Barrozo dosa ironia e tragédia com maestria, criando uma história que é tanto um thriller psicológico quanto um estudo sobre a condição humana. O texto provoca e cativa ao mesmo tempo, revelando um autor que não subestima o leitor e ousa explorar o caos da moralidade em tempos modernos.
Eu li e recomendo!
-Mari Viera