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Caso Laura: “vida que segue”, diz pai da menina sequestrada em Criciúma

Pais da menina Laura se pronunciam após resgate da filha

24 horas de terror. Foi o que viveu a pequena Laura Tessmann, de apenas 11 anos. A menina chegava em casa com o pai, após o jogo do Criciúma, quando foram surpreendidos na entrada da residência por cinco bandidos. Eles estavam em dois carros. Uma das ações dos criminosos foi, previamente, trancar o portão com uma corrente, dificultando a entrada da família na casa. A Polícia, em coletiva de imprensa, deu detalhes sobre o caso.

 

A ação criminosa

Segundo o pai da menina, em relato à autoridade policial, os cinco bandidos, encapuzados, abordaram os dois no início da madrugada desta quarta-feira, 23. E o pai, até teria tentado defender a criança, na tentativa de impedir o sequestro, mas foi amarrado pelos criminosos. A ação teria durado pelo menos 30 segundos.

“Quando se deu conta, a menina já não estava mais com ele”. A Polícia foi acionada e as investigações iniciaram. Um dos carros utilizados no sequestro, foi encontrado incendiado em um bairro no município de Morro da Fumaça.

 

Linha de investigação

A Polícia Civil, juntamente com a Delegacia de Roubos e Antissequestros da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (DRAS/DEIC), Polícia Militar e Polícia Científica, executaram o plano de contingência para a localização do paradeiro da vítima. O primeiro pedido da polícia, foi para que não fossem divulgadas informações sobre a menina, também sobre o caso, para que a segurança da Laura fosse garantida durante as negociações.

O primeiro contato dos sequestradores com a família foi por volta das 6h, através do Instagram do pai, quando mandaram a foto de uma carta que exigia pouco mais de R$ 11 milhões pela menina, e que caso o pedido não fosse atendido, os familiares passariam a receber “partes do corpo da criança” em frente à residência – e até mesmo delegacias.

 

O cativeiro

Durante as 24 horas, a menina foi mantida no porta-malas do carro, sendo liberada apenas para necessidades fisiológicas. Segundo o delegado da DRAS/DEIC, Anselmo Cruz, Laura não sabia bem quais eram esses lugares. Ainda segundo ele, o fato de não ter um cativeiro fixo, dificultou o trabalho da Polícia, já que inicialmente, os sequestradores seguiram um rumo e mudaram a rota.

“A abordagem, perseguição, uma situação de pressão, pode colocar em risco a vida de alguém”, disse o delegado Anselmo.

Segundo ele, nem mesmo membros da família tinham conhecimento da linha de atuação da polícia.

O delegado ainda explica que, como a criança estava dentro do porta-malas:

“Uma abordagem equivocada, uma eventual fuga, situações de pressão, podem fazer com que o motorista capote o carro e a vítima sofra lesões desnecessárias. Tudo isso é avaliado quando trabalhamos com gerenciamento de crises”, explica.

Os primeiros procedimentos foram feitos pela DIC de Criciúma, que contatou a DRAS/DEIC, que é uma delegacia especializada em sequestro. O delegado Anselmo ainda conta que, desde o início, já se tratou o caso como um sequestro premeditado.

 

A motivação

Segundo o delegado, a princípio, o motivo tem se configurado como extorsão.

“Eles queriam tentar conseguir dinheiro. Um valor, se quer irreal a condição imediata de pagamento. A carta continha ameaças, mais especificamente por não noticiar o crime e não haver a prisão de qualquer envolvido enquanto ocorresse a negociação. E se acontecesse, seria enviado um membro superior ou inferior da criança para ser entregue na casa da família ou, até mesmo, em uma unidade policial”, conta.

A carta também tinha um prazo de 72h para que as exigências fossem cumpridas.

 

Onde estava Laura?

No período da tarde de ontem, 23, a polícia constatou que a refém teria sido levada para fora de Santa Catarina.

“Essa foi uma situação que demonstrou um esforço por parte dos criminosos para que a ação policial fosse frustrada ou não houvesse intervenção policial, uma situação que acabou dificultando e sendo um pouco mais desafiadora quanto à localização da menina”, diz o delegado.

 

A participação do advogado

Um contato com a polícia, comunicava que um advogado criminalista teria a interlocução com os autores e que poderia colaborar. A filha deste advogado, estuda com a pequena Laura.

“Algo também bastante arriscado, porque nós nunca sabemos quem está envolvido com crimes de sequestro. Nossa cautela precisa ser imensa com esse tipo de situação. Foi então, decidido como uma estratégia do gerenciamento de crise, monitorar e, ainda assim, permitir essa colaboração para que a prioridade fosse mantida: a menina retornar em segurança”, explicou o delegado Anselmo.

Desfecho

Ainda no fim da noite desta quarta-feira, a menina foi libertada, deixada amarrada pelas mãos, pés e vendada, às margens de uma estrada em Três Cachoeiras, no estado do Rio Grande do Sul.

“Felizmente houve um bom desfecho, buscamos ela na sequência para que retornasse à família de forma saudável. Ela não sofreu agressão física, ela teve a liberdade restringida – amarrada com fitas lacre, chegou a sofrer ameaça de morte enquanto era sequestrada, mas tenho que destacar aqui, a firmeza e serenidade que a menina esteve ontem. Situações em que muitos adultos ficam destruídos psicologicamente, ela se mostrou muito madura, apesar da idade, o que facilita para a recuperação desse trauma”, pontua.

A menina foi atendida pela equipe médica da Concessionária que cuida daquele trecho. Ela foi trazida pelo advogado ao posto da PRF de Araranguá, onde a Polícia Civil e Militar foram contatadas.

 

Parceria das polícias

O delegado Yuri Miqueluzzi enfatizou a união das forças de segurança e destacou o papel dos agentes e escrivães de polícia durante todo o período do sequestro. Para ele duas palavras definem o trabalho das últimas 24 horas:

“Complexidade, porque é tudo diferente e sucesso porque a menina já está a salvo, com seus familiares”.

Em sua manifestação, a perita-geral da Polícia Científica, Andressa Fronza, relatou que desde que tomou conhecimento do fato, a PCI montou uma força-tarefa para começar o processamento dos vestígios a fim de contribuir com a investigação.

O secretário adjunto, Freibergue Rubem do Nascimento, destacou a liderança de todo o processo conduzida pelos delegados da DRAS, Anselmo Cruz, e da DIC de Criciúma, Yuri Miqueluzzi.

“A SSP deu seu contributo por meio de suas polícias chegando a um resultado muito bom. Temos forças policiais de alto gabarito”, disse.

Em nome da Polícia Militar, o tenente-coronel Vilson Schlickmann destacou que a PM começou as rondas ostensivas, imediatamente após o fato, mobilizando suas equipes de inteligência, compartilhando informações entre as forças de segurança com foco em resgatar a menina.

 

Pais se pronunciam

No final da tarde desta quinta-feira, 24, os pais da menina Laura, Ramon Tessmann e Amanda Ghedin Tessmann, participaram de uma coletiva de imprensa para falar sobre o sequestro da filha.

O pai, afirma que não imagina qual tenha sido a motivação desse crime.

“Vamos aplicar algumas recomendações de segurança, padrões e questões de rotina, existem algumas ideias que todo mundo precisa seguir – que é não postar a localização que está. A princípio, apesar da certa exposição que temos na cidade, mas, nunca tivemos conflito no nível de imaginar que ‘essa pessoa faria mal pra nossa família’”, conta.

O pai ainda disse que a maior preocupação era com a saúde física ou alimentação da filha.

Ramon foi questionado sobre a mudança de cidade ou país.

“Já tínhamos ideia de sair do país para fazer missão, mas não vamos acelerar esse processo por conta do que aconteceu. Vida que segue”, afirma.

Sobre o valor de R$ 11 milhões exigido pelos bandidos.

“Eles falaram em um valor, valores irreais, por mais que tenhamos uma empresa bem sucedida, não existe aquele montante. É totalmente fora da realidade, não tem sentido nenhum”, disse Ramon.

O pai, a partir do momento que aconteceu o sequestro, ficou com o celular ligado, o computador também. Às 6h da manhã recebeu contato pelo Instagram.

“O que atrapalhou foi isso, porque no meio de muitas mensagens, encontrei a deles. A mensagem dizia ‘fica tranquilo, estamos com a tua filha.’ Eu gelei. Tinha um áudio dela dizendo ‘pai, mãe, fiquem tranquilos porque em breve eu estou de volta em casa’. Ela sempre muito serena, com muita inteligência emocional. Eu respondi: pelo amor de Deus, eu faço o possível, vamos negociar. E não tivemos mais notícias”, explana o pai.

Ele ainda confirmou como aconteceu o sequestro.

“Eu estacionei o carro e quando eu fiz a volta, saiu o carro do outro quarteirão e estacionou bem na frente. Pensei: por que esse cara tá com capuz? E aí ele anunciou um assalto. Eu entrei em luta corporal com ele, quando vi que ele iria sacar a arma e fiquei com medo de atirar na Laura, que estava no carona”, conta.

Sobre a participação do advogado criminalista no resgate, os pais contam que ele é conhecido da nossa família, já que a filha dele é amiga de escola da Laura.

“Na quarta pela manhã, ele esteve em casa e queria falar com o delegado. Colocaram eles em contato. Eu não participei de mais nada”, pontua o pai.

Preso um envolvido

Na tarde desta quarta-feira, 24, a Polícia já efetuou uma prisão em Criciúma. Foi um jovem, de 22 anos, com passagem por tráfico de drogas. Ele teve participação direta no sequestro. Segundo o delegado Anselmo, esse jovem não tinha informação sobre o cativeiro da vítima ou localização dos bandidos.

“Não significa que todos envolvidos sabem de tudo. Geralmente, um é contratado para uma coisa, outro pra outra, sem saber do plano geral”, explica.

A Polícia vai continuar investigando para localizar os outros quatro envolvidos no crime.