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Feminismo indígena é debatido na Unesc

“Metida não. Empoderada!”. É assim que Ana Roberta Uglõ Patté, índia Xokleng, respondia e responde aos seus irmãos quando a chamam, carinhosamente, de metida. Ana é acadêmica de Direito da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e militante do movimento feminista.

Acadêmicos e professores da UNESC se reuniram para debater e abordar e desfazer os paradigmas do movimento feminista dentro da cultura do povo indígena. “Desde pequena eu sempre fui metida, no bom sentido. Sempre envolvida com as causas da aldeia, por isso meus irmãos brincam comigo assim”, comenta. Incentivada pela mãe, Ana saiu da aldeia para estudar em Florianópolis e conheceu o movimento feminista. “Quando você sai da aldeia, você começa a ver as diferenças. Nossa realidade de vida é diferente. Hoje eu sei o que é o feminismo”, acrescenta.

De acordo com ela, o interesse não é o de retirar os costumes do povo indígena, mas sim de criar uma nova política feminista indígena. “Eu penso de que forma levar o feminismo sem ferir os usos da minha aldeia, pois lá se tem costumes que não serão modificados, pois fazem parte da cultura daquele lugar”, comenta.

Segundo Ana, alguns hábitos que as mulheres da aldeia praticam são parte histórica daquele povo. “As mulheres da aldeia têm uma política diferente. O machismo que hoje existe lá dentro, veio de fora, veio do homem branco da cidade. É por esse machismo que lutamos contra, pois ele fere com os costumes que os homens indígenas praticam dentro da aldeia”.

 

Espaço de atuação

A professora do curso de Direito da Unesc, Mônica Ovinski de Camargo Cortina, produziu um recente trabalho que trata sobre os direitos das mulheres indígenas. De acordo com ela, atualmente o avanço nessa área tem aumentado. “Não compete a nós tomar a fala das mulheres indígenas, mas temos que dar espaço e fala para elas. Porém, isso de nada vai adiantar se não tivermos pessoas para escutá-las”, enfatiza.

Segundo Ana, a luta das mulheres dentro e fora da aldeia é constante. “Nós temos que além de aprender com a Universidade, ensinar e ter espaço de fala”. De acordo com ela, está ocorrendo um aumento da participação indígena na UFSC, o que seria um reflexo da luta de muitas pessoas por espaço ao povo indígena.