Search

A corrida dos ratos

A chamada corrida dos ratos é aquela roda que gira, gira, gira… e a gente corre atrás dentro dela achando que está indo longe, mas quando olha direito, continua no mesmo lugar. É um conceito muito usado para falar da vida moderna: trabalhar muito, ganhar dinheiro só pra pagar as contas, ter mais despesas para manter o padrão, cansar, colher pouco, e ainda assim acordar no outro dia para repetir tudo.
É um ciclo que prende — não porque alguém amarra correntes, mas porque as expectativas sociais fazem o papel delas: tem que ter um carro melhor, a casa maior, o celular novo pra não ficar pra trás, subir na empresa nem que custe saúde e tempo com quem ama. E assim vai… um passo para frente, dois carnês para trás. A ideia central é simples e dolorosamente real: quanto mais se conquista, mais obrigações aparecem, e menos se vive.
Sair disso não é se isolar do mundo ou virar hippie na beira do mato — embora às vezes pareça tentador. É ter consciência do que de fato importa, priorizar vida em vez de vitrine, trabalhar com propósito e não apenas sobrevivência. É entender que riqueza de verdade é ter tempo, é paz, é mesa cheia de risada, é ver os filhos crescendo.
Lembra do filme Shrek para Sempre? A história mostra exatamente a quebra da rotina automática.
Shrek tinha tudo o que um ogro jamais imaginou ter: casa, esposa, filhos, amigos e fartura no pântano. Só que entrou justamente na corrida dos ratos do conforto. Todo dia igual, tudo previsível, a bendita prisão do mesmo. Nada ruim — mas nada vivido com presença. Ele não via o que tinha porque estava ocupado demais reclamando do que não era perfeito. Igual muita gente que troca a paz que já possui pela ilusão de algo maior, mais brilhante, mais rápido.
Aí entra o Rumpelstiltski — mas que nomezinho difícil, hein! — que enxergava aquilo como ouro puro. Enquanto Shrek via rotina cansativa, o “Rampo” — assim fica melhor — via vida plena. Ele queria aquilo porque entendia o valor. Shrek desprezava porque já tinha e não percebia. O sucesso que muita gente corre anos pra conquistar é o mesmo que outros desperdiçam por não enxergar. Shrek só percebeu quando perdeu — quando acordou num mundo onde Fiona não o amava, onde seus filhos não existiam, onde os amigos não sabiam quem ele era, onde ninguém sentia falta dele.
Nós vivemos pedindo uma vida melhor enquanto a vida que pedimos já está acontecendo e a gente passa reto; — nem sempre falta algo… às vezes falta só perceber; — a roda não se quebra quando a gente conquista mais, mas quando começa a valorizar o que já tem. Shrek só foi livre quando deixou de correr. Talvez nós também. A corrida dos ratos não é sobre o rato, é sobre a roda e, só termina quando se começa a ver melhor. Quando se troca o “querer” pelo “viver”.
E aí vem a pergunta que não quer calar: A gente está correndo porque quer chegar ou porque esqueceram de nos avisar que o chão não sai do lugar?