Quando ocorre um fato marcante como a megaoperação que culminou na morte de 121 pessoas, entre elas quatro policiais, a reação subsequente reafirma por que os problemas brasileiros persistem sem solução.
O ciclo se inicia com a disputa pela responsabilidade dos resultados. Em seguida, surgem as soluções imediatas, que invariavelmente culminam na proposta de mais um projeto de lei a ser votado no Congresso.
Após as manifestações indignadas de políticos e celebridades, as ações imediatas são implementadas. Primeiramente, instaura-se um fictício gabinete de crise, a nova “moda” da administração pública brasileira. Nada se diz sobre a eficácia desse gabinete, que, supõe-se, terá pessoas extremamente preparadas para convencer os criminosos a entregarem suas armas.
Há quem critique o fato de a prefeitura do Rio não ter sido comunicada, como se isso fosse um procedimento relevante. Na verdade, a comunicação prévia à esfera municipal inevitavelmente aumentaria o risco de vazamento da operação. A isso, segue-se a velha retórica da integração, outro retumbante vazio. Não há uma única pessoa que se arrisque a explicar um resultado prático que viria dessa integração entre polícias ou governos no combate à criminalidade.
O Governo Federal, por sua vez, agora expressa o desejo de assumir o controle das Polícias Militares de todo o país. Não se dá conta de que levou mais de um mês e gastou seis milhões para recapturar dois fugitivos de um presídio de segurança máxima no Rio Grande do Norte, que escaparam por um buraco na tubulação de energia elétrica.
Os especialistas, em geral ex-ministros ou ex-secretários de segurança, surgem dominando o debate com manuais sobre como os atuais deveriam controlar a criminalidade pesada. Eles citam exaustivamente, por exemplo, uma operação que teria causado um baque nas finanças das organizações, sem disparar um tiro ou causar mortes. No entanto, omitem-se em fornecer o passo a passo de como o bloqueio financeiro forçaria os criminosos a entregarem os cem fuzis apreendidos nos morros do Rio.
O argumento de décadas de que o Brasil não fabrica armas e que o reforço deve se dar nas fronteiras é reiterado. Contudo, nenhum especialista tenta explicar a ausência desse controle, embora todos saibam que ele diminuiria drasticamente a criminalidade.
O noticiário também enfatizou que o presidente da República ficou “estarrecido com a letalidade gigante”. Surpreendentemente, nenhum especialista questionou por que ele nunca se estarreceu com os números de seu próprio governo, já que, até 2023, ano do último levantamento do Mapa da Violência, a média de mortes diárias no país era maior do que o número de óbitos na megaoperação do Rio. A título de exemplo, em 2023, foram registrados 45.747 homicídios no Brasil, com uma média diária de 125, o menor índice nos nove anos de governo Lula.
Foto Capa – Tomaz Silva – Agência Brasil






