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Valor x Preço

Uma vez fui negociar meu carro. Eu tinha um lindo Fiesta bordô, ano 97, que me acompanhava há tempos. Chegara a hora de me separar do velho companheiro de estrada.
Um senhor veio para comprar meu “auto”, olhou pra mim, fez cara de quem tinha visto um ET no estacionamento e soltou:
— Tá caro, hein…
Respirei fundo, fiz aquele meu olhar sério — que só consigo de tempos em tempos — e disse:
— É que o valor dele… não tem preço.
Ele coçou a cabeça, confuso, e perguntou:
— Mas não é tudo a mesma coisa? Preço, valor, dinheiro…
Foi aí que decidi dar aula de Filosofia Automotiva, com direito a exemplos práticos de vida real:
— Olha, preço é quanto alguém paga. Valor… é o que significa pra ti. Ele abriu a boca pra contestar, mas deixei esperando e continuei:
— Esse carro, meu amigo, não é só metal e rodas. Ele é meu carro de passeio com a família, meu carro de trabalho, leva meus filhos pra escola, serve de táxi pra os irmãos da igreja e, algumas vezes, foi até ambulância improvisada quando alguém precisou.
O senhor piscou, tentando processar tudo isso. Dei mais uma olhada no Fiesta e comentei, meio rindo:
— O único problema que ele me causou nesses anos… foi uma vez que faltou gasolina. Culpa da pecinha lá atrás do volante.
Ele finalmente soltou um riso contido, e eu continuei, porque quem sabe de valor não se cala:
— Sabe, muita gente acha que preço define tudo. Que é só uma questão de números, de cédulas, de “quanto você paga e pronto”. Mas valor… valor é memória, é história, é risada com os filhos, é esforço, é socorro dado, é fé que se carrega junto com o carro em cada viagem.
De repente, aquele senhor ficou sério. Olhou pro Fiesta, depois pra mim, e eu vi que estava começando a entender. Mas antes que falasse qualquer coisa, fechei com chave de ouro:
— Então, se você quer só um carro, tem preço. Se quer tudo que ele já viveu comigo, com minha família e com meus irmãos da igreja, o preço… não existe.
Por mais estratégico que eu tivesse sido naquele momento, não fechamos negócio. Na realidade, ele estava realmente procurando preço.
Saí dali pensativo. Falei tantas coisas boas sobre meu carro, reconheci tanto valor nele, que confesso: na hora, nem queria mais vendê-lo.
Valor, meu amigo, não se mede em dinheiro. Ele se sente no coração, nas histórias e nas risadas que ninguém consegue comprar. Preço é a quantia que alguém paga. Valor é o significado, a importância ou o peso que aquilo tem pra alguém.
Bom, preço a gente paga todo dia. Valor… esse a gente carrega, protege e, às vezes, deixa escapar num carro bordô de 97 que sabe mais da vida que muita gente por aí.
Depois disso, tirei a plaquinha de “vende-se”, comprei uns “pindulicálios” pra ele, peguei a família e fomos passear. Eu e meu velho companheiro de estrada seguimos juntos por mais um bom tempo.
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