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O comum e o normal

É curioso como a gente se acostuma. O que antes causava espanto, hoje mal arranca um comentário. E aí entra uma questão que precisa ser pensada com urgência: o que é comum… é normal?
Comum é o que se repete, o que se vê o tempo todo, o que vira paisagem.
Normal é o que é aceito, considerado adequado, digno de ser mantido. O perigo começa quando o comum — mesmo sendo errado — passa a ser considerado normal. E hoje, estamos vivendo exatamente isso: a banalização do absurdo.

É comum ver pessoas lado a lado, mas cada uma mergulhada numa tela. Pais e filhos na mesma casa, mas mundos diferentes. O silêncio nas refeições já não causa estranhamento. Conversas olho no olho viraram raridade. O toque humano foi substituído por mensagens, figurinhas e emojis. E ninguém mais questiona. O estar presente fisicamente, mas ausente emocionalmente, se consolidou como normal.
É comum ligar a TV e ver tragédia. Rolou o feed, lá está a próxima vítima: feminicídio, racismo, latrocínio, corrupção, massacre. A reação? Um suspiro, talvez um comentário: “o mundo tá perdido”, seguido por um vídeo engraçado logo abaixo. A dor virou número. O sofrimento virou “conteúdo”. A morte se tornou só mais uma notícia.

Mas o buraco vai além. Hoje, até o que deveria ser tratado com dignidade virou pauta de piada. Deficiências físicas, doenças mentais, luto, assassinatos — viraram parte do roteiro de stand-ups. O que antes seria motivo de respeito, agora é parte do espetáculo. Gente rindo de gente machucada. E o público aplaude. Porque virou entretenimento.
É aqui que a linha entre o comum e o normal se dissolve. E quando isso acontece, a gente entra num terreno perigoso chamado dessensibilização. O nome é bonito, mas o efeito é brutal: A mente se acostuma. O coração esfria. A alma se cala. E o erro vira paisagem.
Olha como encaixa:

A iniquidade se multiplica quando o errado é repetido e aceito.
O amor esfria quando ninguém mais se importa, quando tudo vira “normal”.
E o resultado é um povo frio, apático, vivendo no automático.
O que antes escandalizava, hoje é só mais um detalhe. Um meme. Uma figurinha.
E esse é o solo fértil da iniquidade: o erro repetido e aceito como parte da rotina.
Jesus Cristo já havia alertado, de forma direta e sem rodeios:

 “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mateus 24:12).

E esfriou. Esfriou nos casamentos. Nas famílias. Nos relacionamentos. Na empatia. No respeito.
A normalização do erro virou progresso. A frieza emocional virou autocontrole.
O “não me importo” virou estilo de vida. E a gente chama isso de maturidade.
Mas o que se vê é outra coisa: é um povo esgotado, mentalmente colapsado, espiritualmente distraído, emocionalmente analfabeto. Gente cansada de sentir — que resolveu parar de sentir de vez.

A gente aceita o intolerável com cara de quem entendeu. Mas não entendeu. Só cansou de resistir.
E enquanto tudo isso for tratado como normal, vamos continuar escorregando na mesma lama. Porque não é liberdade rir do sofrimento dos outros. Não é maturidade ignorar o que machuca. E definitivamente não é evolução chamar o errado de “só mais um dia”.
Nada disso é normal. É só comum. E comum demais pra continuar sendo ignorado.