Eu tava indo pro trabalho quando passei por aquele lugar onde me acidentei tempos atrás. Um canto que pra mim sempre teve gosto amargo, cheio de lembranças ruins. Mas, naquele dia, encontrei gente parada ali, sorrindo. Gente que não parecia carregar o peso que eu sentia ao lembrar do que aconteceu. Parei, fiquei olhando, e aquilo me fez pensar.
O mesmo lugar, pra cada um, tem uma história diferente. Pra mim, era dor. Pra eles, alegria. Como pode? É que o ambiente, a gente é que faz. Somos nós que damos o tom, que colocamos a cor no quadro. Um lugar não é triste ou feliz sozinho — ele carrega o que a gente leva dentro.
Pense numa casa onde houve brigas, tristezas, portas que se fecharam com barulho. Anos depois, quem compra ou aluga aquela casa traz novas histórias, risos, esperanças. O que foi cenário de conflito vira abrigo, onde a paz pode brotar.
E no trabalho? Ah, no trabalho a coisa é clara. Pra uns, o patrão é um chato, o salário é pouco, o expediente é longo demais. “Esse lugar me suga”, dizem. Já pra outros, no mesmo lugar, o emprego é sustento, é dignidade, é a chance de botar comida na mesa e sonhar com algo melhor. O que um chama de castigo, o outro chama de bênção. O mesmo chão, as mesmas paredes — visões totalmente diferentes.
Tem gente que fala mal daquela cidade. “Nunca gostei daqui, tudo ruim, gente fria, lugar parado.” Mas pra outro, foi ali que conheceu o amor da vida, criou os filhos, começou a escrever sua história. A mesma cidade, dois corações completamente diferentes.
Aquela praça? Tem quem só lembre do assalto. Mas tem quem lembre dos piqueniques com os filhos, das tardes de chimarrão, dos primeiros passos do neto. Aquela escola? Pra uns, trauma. Pra outros, a base de tudo que aprenderam. Aquela igreja que pra alguns foi lugar de julgamento, pra outros foi refúgio, abraço e renovo.
Tudo depende do que se vive lá dentro… e principalmente, do que se carrega no peito.
E o que dizer do cemitério? Lugar de despedida, de lágrimas. No mesmo espaço, um coveiro pode estar feliz, porque recebeu um aumento de salário e agora vai poder trocar de carro. Não é falta de respeito, é a vida seguindo, com suas alegrias e tristezas, convivendo lado a lado. A vida é feita dessa colcha de retalhos, onde o oposto se encontra.
No hospital, um lugar pesado pra muitos, um estagiário vive o primeiro dia de trabalho cheio de esperança. Passa pelos corredores, tímido, com o sorriso escondido. Enquanto uns choram, outros começam uma jornada nova. No mesmo ambiente, tantos mundos diferentes.
É isso que eu quero dizer: o ambiente somos nós. Nossos sonhos, medos, alegrias e tristezas dão sentido ao lugar. Não é o lugar que pesa, nem o espaço que decide como vamos nos sentir.
A gente carrega o que faz o mundo ser assim. E é por isso que, no mesmo lugar, pode existir o sofrimento e a esperança, o choro e o sorriso, o fim e o começo.
O que a gente vê lá fora muitas vezes é só um reflexo do que a gente tem dentro. Se quer mudar o mundo, começa mudando o que vive aí dentro de você.