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Estreia da coluna “Crônicas da Vida Descoisada”? – O drama de quem tem demais!

O nome dessa coluna nasceu do meu canal no WhatsApp, chamado “Descoisando o Coiso”.
E esse, por sua vez, nasceu de uma frase que meu professor soltou em meio a aula quando um aluno começou a fazer perguntas sem pé nem cabeça. Meu professor parou, respirou fundo, olhou sério e mandou: “Não descoiseia o coiso.” A turma caiu na risada — e eu também. Mas, aquela frase ficou comigo. Porque, no fundo, ela dizia muito: “às vezes a gente tenta mexer no que nem entende direito, bagunça o que já estava bagunçado, ou tenta explicar o que não tem explicação”. Daí veio a ideia: a vida é cheia de coisinhas, bagunças internas e perguntas tortas. Essa coluna é pra isso — pra rir, refletir e, quem sabe, descoisar um pouco dessa vida tão coisada.

Então, saboreiem a crônica de estreia.

 


O drama de quem tem demais!


Era uma vez um homem, que na verdade era eu, que na verdade podia ser você, ou qualquer um nesse mundão digital, que sentou na frente do computador decidido a escrever. Um cronista nato, uma mente brilhante, um prodígio das palavras (segundo a minha mãe). Só tinha um pequeno problema: não fazia ideia do que escrever.

Mas não era por falta de tema, veja bem. Não! Isso seria fácil. Falta é administrável. Falta a gente resolve com uma caminhada, um café e um “bah, me deu um estalo!”. O problema era o oposto: excesso. Excesso de tudo. Excesso de tema, de ideia, de referência, de insight, de TikTok explicando como escrever, de vídeo com “5 dicas infalíveis para criar conteúdo relevante”, de guru do Instagram dizendo “seja autêntico, mas siga o algoritmo”. Capaz, né?

A cada ideia que surgia, outra mais interessante brotava. E aí vinha outra mais profunda, e depois uma mais engraçada, e uma mais polêmica, e uma que daria curtida, e outra que renderia textão… Resultado: escrevi foi nada.

É tipo estar num rodízio e o garçom te oferece 47 tipos de carne, mas tu trava no primeiro pão de alho. A vida virou um rodízio de informação e nós, os glutões mentais, atolados até o pescoço de conteúdo, com o cérebro dizendo: “não aguento mais consumir! Só queria digerir uma coisinha de cada vez!”

Antigamente, o sujeito sentava, olhava pro horizonte, via uma vaca mastigando pasto e dizia: “já sei! Vou escrever sobre o silêncio das tardes rurais.” Hoje, a gente abre o navegador e é bombardeado com guerra, pizza de sushi, inteligência artificial que escreve melhor que a gente, influencer vendendo curso de influência, ex-BBB virando coach e coach virando ex-BBB. COMO É QUE ESCOLHE, MEU DEUS?

A gente vive a era da diarreia criativa. É conteúdo demais, ideia demais, estímulo demais. A cabeça não para. E se por um lado o deserto criativo era triste, o oceano criativo dá afogamento.
A verdade, pessoal, é que o excesso também paralisa. A gente acha que ter tudo é liberdade, mas muitas vezes é prisão. É tanta opção que a gente congela. E sabe o que é pior? A culpa ainda é nossa, porque nos disseram que “quem não produz não existe”. Então tá bom. Bora existir ansioso e atolado de coisa.

Mas agora decidi. Escrevi essa crônica mesmo sem saber o que escrever. Escolhi escrever sobre o excesso de coisa pra escrever.

Porque, no fim das contas, a gente não precisa escrever tudo. Só precisa escolher um caminho e ir até o ponto final. Ou pelo menos até a vírgula que salva.
E quer saber? Às vezes o segredo da criatividade não é ter mil ideias. É ter coragem de escolher uma só.

E que seja com pão de alho. Porque, convenhamos, é o melhor do rodízio.