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O preço da revolta

Em Corvo Negro, Fantasia escrita pelo Curitibano Luca de Lucca, publicada pela Editora Flyve somos lançados em um cenário de contrastes brutais, onde a cidade de Gor reflete uma sociedade hierárquica e desigual. Entre muros altos e um frio capaz de congelar até os ossos, uma elite prospera enquanto a população tenta sobreviver com as migalhas. Dentro desse contexto, a narrativa não se limita a construir um universo fantástico: ela o utiliza para tecer uma crítica social afiada e cheia de referências do mundo atual.

 

A obra evidencia as disparidades entre classes e a forma como a miséria é perpetuada por uma estrutura de poder que convence os oprimidos de que a realidade não pode ser mudada. Personagens como Meri desafiam essa visão, recusando-se a aceitar um destino imposto. Seu debate com Leiram e Ukel sobre a desigualdade expõe diferentes perspectivas sobre a opressão: a resignação, a revolta e o pragmatismo. Em um momento crucial, Meri questiona os colegas: “Se estiver ao meu alcance, sim! Mato todos os ricos e quem for burro o suficiente para se colocar no meu caminho”. Seu discurso radical não é apenas um grito de guerra, mas um reflexo da desesperança e da fúria acumulada ao longo dos anos.

 

A jornada do herói aqui se desvia do tradicional. Ukel não é uma figura pura e imaculada destinado a salvar o mundo; ao contrário, suas escolhas carregam o peso da ambiguidade moral. Seu caminho não conduz necessariamente à redenção, mas a uma compreensão brutal da realidade e das concessões necessárias para sobreviver. O conflito entre sua busca pela justiça e os meios que usará para obtê-la cria um dilema fascinante, que instiga o leitor a refletir sobre o verdadeiro custo da mudança.

 

Além disso, a narrativa é permeada por um jogo de manipulação e resistência. O Rei, os nobres e até mesmo os ceifadores operam dentro de um sistema em que a hipocrisia é regra, como quando um membro da elite declara: “A hipocrisia, minha menina, mora em todos nós. Você só será livre dessa dor quando entender que as pessoas nascem com um propósito, um lugar no mundo, e nada é capaz de mudar isso”.

 

Corvo Negro não é apenas uma história de rebeldia; é um estudo sobre poder, sobrevivência e até que ponto alguém pode ir para moldar seu próprio destino.

 

Eu li e recomendo!

-Mari Vieira