No livro O Massacre de Columbine, o jornalista e autor Dave Cullen faz uma investigação profunda e completa sobre o infame tiroteio de Columbine, que ocorreu em 1999 e mudou para sempre a percepção pública sobre segurança escolar, juventude e violência nos Estados Unidos. Com uma abordagem quase cirúrgica e ao mesmo tempo sensível, Cullen não apenas relata os eventos fatídicos do dia, mas também explora, em camadas, os fatores sociais, psicológicos e culturais que podem ter contribuído para que dois jovens cometessem uma das maiores atrocidades em solo escolar.
Desde o início, Cullen destaca-se por romper com as explicações simplistas e estereotipadas amplamente divulgadas pela mídia na época. Em vez de se depois do clichê de que os atiradores eram “apenas garotos problemáticos” ou vítimas de bullying, o autor examina a complexidade psicológica de ambos, revelando como a questão da saúde mental era uma variável importante e subestimada. Ele se dedica a explorar o perfil psicológico de dois adolescentes, Eric Harris e Dylan Klebold, desenhando um contraste profundo entre o perfil manipulador e violento de Eric e a depressão autodestrutiva de Dylan. Este retrato detalhado permite ao leitor entender a importância de observar as nuances no comportamento e no histórico emocional dos dois jovens.
Um ponto que merece destaque na análise de Cullen é a forma como ele desconstrói a cobertura da mídia e as narrativas populares que surgiram logo após o massacre. Por exemplo, a ideia de que Columbine foi um ato motivado exclusivamente pelo bullying na escola ou pelo isolamento social dos atiradores é minuciosamente questionada e derivada por uma análise mais realista e, ao mesmo tempo, sombria. Cullen enfatiza que os primeiros relatos, cheios de equívocos e sensacionalismo, acabaram por gerar uma “verdade” pública deturpada e, muitas vezes, distante dos verdade. Esse aspecto traz à tona um importante questionamento sobre a ética e a responsabilidade da mídia ao relatar tragédias.
Além disso, Cullen discute os impactos de Columbine em uma sociedade assombrada pela violência e no sistema escolar, que ainda hoje tenta se prevenir contra eventos semelhantes. Sua análise sobre as mudanças nas práticas de segurança, no treinamento de professores e no próprio comportamento dos estudantes após Columbine é uma leitura obrigatória para aqueles que desejam entender a extensão desse impacto.
Em termos de estilo, Cullen demonstra um domínio impressionante da narrativa jornalística, combinando o rigor investigativo com uma escrita envolvente e acessível. Ele equilibra fatos e emoções, conseguindo um tom que é respeitoso com as vítimas e com as famílias, sem deixar de apontar os erros institucionais e os fracassos de segurança que ocorreram para a tragédia. Sua escrita consegue, ao mesmo tempo, informar e sensibilizar, provocando reflexão e empatia.
“O Massacre de Columbine” é, portanto, uma obra poderosa e inquietante, que transcende o mero relato de um acontecimento trágico e se torna uma reflexão sobre a natureza humana, os desafios da adolescência e as consequências de uma sociedade desatenta à saúde mental e à prevenção da violência. É uma leitura essencial para quem deseja compreender o que realmente aconteceu em Columbine e, principalmente, para quem busca compreender como evitar que histórias assim se repitam.
Eu li e recomendo muito!