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Dom Casmurro: A Obra-Prima Ambígua de Machado de Assis

A literatura brasileira teve sua estrutura abalada em 1899 com a publicação de Dom Casmurro, uma das obras mais célebres de Joaquim Maria Machado de Assis. Esse romance, que figura no cânone da literatura mundial, desafia seus leitores com sua narrativa rica, repleta de nuances e ambiguidades, que gera debates acalorados até os dias de hoje.

 

A história é narrada pelo próprio Bento Santiago, ou Dom Casmurro, um homem idoso e recluso que decide recontar sua vida, desde a infância ao lado de Capitu, sua grande paixão, até os eventos que culminam na separação dos dois. A grande questão que permeia o romance é a suspeita de adultério por parte de Capitu, o que faz com que Bento questione a paternidade de seu filho, Ezequiel.

 

A genialidade de Machado reside em sua capacidade de explorar o tema da dúvida de forma tão intensa que os leitores, muitas vezes, terminam a leitura sem uma resposta definitiva sobre a fidelidade de Capitu. Essa ambiguidade tornou-se a marca registrada da obra, alimentando discussões intermináveis sobre a verdadeira natureza dos personagens.

 

Dom Casmurro, como narrador, é uma figura complexa e pouco confiável, o que Machado de Assis faz questão de salientar. O estilo de narrativa introspectivo permite ao leitor mergulhar profundamente nos pensamentos e sentimentos de Bento, o que, ao mesmo tempo, levanta suspeitas sobre a objetividade de sua história. Capitu, por sua vez, é descrita de forma enigmática, com seus “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, que parecem refletir tanto inocência quanto malícia.

 

Os personagens secundários, como Escobar, amigo próximo de Bento, e José Dias, o agregado adulador, enriquecem a trama com suas próprias personalidades e contribuem para as reviravoltas na vida do protagonista.

 

Machado de Assis emprega uma prosa elegante, repleta de ironias sutis e alusões literárias, características que consagram seu estilo singular. Sua capacidade de dissecar a alma humana com precisão cirúrgica faz de Dom Casmurro não apenas um estudo sobre ciúme e desconfiança, mas também um comentário social sobre as convenções e hipocrisias da sociedade brasileira do século XIX.

 

Desde seu lançamento, o livro recebeu críticas mistas, que vão desde elogios à sua profundidade psicológica e estrutura narrativa inovadora até acusações de misoginia e injustiça para com Capitu. Não obstante, o romance solidificou o lugar de Machado de Assis como um dos maiores escritores da língua portuguesa.

 

Eu li e recomendo!

  • Mari Vieira