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MAIS QUE UM LIVRO, UMA CRÍTICA SOCIAL

Um Defeito de Cor”, romance monumental da escritora Ana Maria Gonçalves, é uma obra que transcende os limites da ficção histórica para oferecer uma reflexão profunda sobre a escravização, o racismo e a resistência. Publicado em 2006, o livro é amplamente aclamado por sua riqueza narrativa e pela complexidade de seus personagens, sendo uma leitura essencial para quem deseja entender melhor a formação da identidade brasileira e a luta pela liberdade.

 

A narrativa gira em torno de Kehinde, uma africana capturada e vendida para ser escravizada, que, ao longo de quase mil páginas, conta sua história de vida. Kehinde é uma personagem forte e resiliente que atravessa o Atlântico, passando pelas mais diversas experiências, desde a infância na África, passando pela brutalidade do tráfico negreiro e pela vida nas fazendas de açúcar no Brasil, até sua luta pela liberdade e pela recuperação de sua família.

 

O romance é ambientado no século XIX, um período crítico na história brasileira, marcado pelo tráfico de escravizados e pelas primeiras movimentações abolicionistas. A autora utiliza a história de Kehinde para iluminar aspectos muitas vezes negligenciados da escravização, como as relações complexas entre os diferentes grupos de africanos escravizados e suas interações com os senhores de escravos e a sociedade branca.

 

Kehinde é uma protagonista cativante, cuja jornada é contada com uma profundidade emocional rara. Seu crescimento, desde uma jovem assustada até uma mulher madura e determinada, é traçado com uma sensibilidade que convida o leitor a refletir sobre a condição humana e a resistência frente às adversidades. Através dela, Gonçalves dá voz a uma miríade de experiências e sentimentos, explorando temas como a maternidade, a perda, a esperança e a resiliência.

 

Ana Maria Gonçalves utiliza uma linguagem poderosa e evocativa, que transporta o leitor para o ambiente opressivo e brutal da escravização A autora emprega uma narrativa não linear, com flashbacks e saltos temporais que enriquecem a trama e mantêm o leitor engajado. A riqueza de detalhes históricos e culturais é impressionante, resultado de uma pesquisa meticulosa, que confere autenticidade à história.

 

Além disso, Gonçalves intercala a narrativa com cartas, documentos e relatos que aprofundam ainda mais a compreensão do período e das condições vividas pelos escravos. Esta abordagem multifacetada permite uma imersão completa na época e nas experiências dos personagens.

 

“Um Defeito de Cor” aborda temas universais e atemporais, como a luta pela liberdade, a resistência contra a opressão e a busca pela identidade. O livro é um lembrete poderoso das atrocidades cometidas durante a escravidão e da necessidade de reconhecer e enfrentar o legado desse período na sociedade contemporânea.

 

Em um momento em que o debate sobre o racismo estrutural e a desigualdade racial está mais aceso do que nunca, a obra de Ana Maria Gonçalves se revela extremamente relevante. Ela não apenas resgata a memória dos que sofreram sob o jugo da escravidão, mas também promove uma reflexão crítica sobre as raízes do racismo e a importância de uma reparação histórica.

 

Um dos melhores livros que já li, recomendo!

Boa leitura!

  • Mari vieira