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Sem novas usinas, há risco de faltar energia na retomada econômica

Enquanto o presidente da república Jair Bolsonaro adverte mais uma vez quanto às perspectivas de um novo apagão, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou novas normas que regulamentam os procedimentos para equacionar o chamado “risco hidrológico”. A proposta tem como objetivo liberar R$ 9 bilhões para o mercado de energia.

Uma notícia importante para todos os investidores, em curto prazo, mas que não resolve o problema da capacidade energética para os próximos anos. “Essa pendência de R$ 9 bilhões vai se repetir todas as vezes em que ocorrerem épocas de estiagem, que são completamente previstas não só pelos estudiosos, mas comprovadas por dados de mais de 70 anos de medição de chuvas, dominados por qualquer hidrólogo, por qualquer empresa de geração de energia”, comenta o engenheiro eletricista Ivo Pugnaloni, diretor da ENERCONS consultoria em energia, ex-diretor de Planejamento da COPEL.

O especialista explica que no Brasil existe uma nota técnica que estabeleceu a metodologia que os geradores devem usar obrigatoriamente, para calcular a garantia física de suas usinas, tanto as estatais, como as privadas, sejam elas grandes ou pequenas. Todas foram obrigadas por uma portaria do Ministério de Minas e Energia a adotar essa metodologia. Essa metodologia é baseada num programa de computador que aplica um modelo matemático e premissas fixadas pelos responsáveis pela gestão do setor elétrico brasileiro.

“Acontece que dentre essas premissas, existem cinco que estão equivocadas. Muito equivocadas. Todas produzindo um erro no sistema, que o faz superestimar em 18% para mais, a energia assegurada de todas as centrais hidrelétricas do Brasil. E aquela que mais se destaca e mais erro provocou na avaliação da real capacidade de armazenamento é a premissa que obriga a não considerar as perdas elétricas nas interligações”, diz Pugnaloni. 

O consultor afirma que enquanto essa nota técnica não for toda revisada continuaremos com ameaça de apagões. “Ela superestima a garantia física dos nossos reservatórios. E faz com isso com que os governos, Ministério, Aneel não se preparem para as crises de afluências com a antecedência devida, não se preparem para a diminuição natural, prevista, da afluência”, acrescenta.

Segundo ele, não se constroem mais reservatórios e usinas porque está superestimada a garantia física das atuais. É isso que provoca uma falsa sensação de segurança, e a não construção de novos reservatórios quando a população cresce como cresce no Brasil e não há mais usinas, sendo construídas no Brasil com a velocidade que deveria ser dada nesse processo. Há uma perseguição completa contra usinas hidrelétricas, afirma.

“Há privilégios porque o combustível fóssil é caro, poluente e importado e isso é benéfico para alguns grupos econômicos. É simplesmente um deslocamento de concorrência, então, atrapalha-se o quanto puder a geração hidrelétrica para favorecer à geração termoelétrica fóssil. Porque a água passa por aquele rio há 200 milhões de anos, não precisa de caminhão tanque para a transportar, ela vai sozinha, ela não paga o frete, não paga seguro, nem pedágio”, complementa Pugnaloni.