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Campanha conscientiza sobre perda gestacional e infantil

Assunto delicado, o aborto causa muitos impactos na vida da mulher, mas muitas vezes pode ser evitado; profissionais falam sobre o tema

O mês de outubro é conhecido como Outubro Rosa, mas o que muita gente não sabe é que neste mês também há uma outra campanha em andamento: a conscientização da perda gestacional e infantil. Na prática, outubro é o mês de chamar a atenção para os casos em que muitas mães perdem seus bebês ainda no ventre ou logo após o nascimento. 

Poucas pessoas se dão conta de que a maternidade vem bem antes da barriga estar aparente e volumosa, já que muitas mulheres sonham em ser mães e começam sua nova jornada logo após descobrirem que estão grávidas. “Durante este processo já nos tornamos mães, por um instinto que não sabemos muito bem de onde vem, mas que surge com a alegria da descoberta, fica ali amadurecendo dentro da gente pronto para ser colocado em prática assim que o bebê nascer”, explica a psicopedagoda clínica e institucional, Kellem Oliveira Pinto.

Ainda segundo ela, o processo de carregar um filho em seu ventre, mesmo que provisoriamente, seja por um mês ou nove meses, ali naquele tempo  já se constrói uma mãe que cria inúmeros sonhos e expectativas. Quando há um aborto ou a morte prematura do bebê, isso impacta enormemente na vida dessa mulher. “Quando este processo é interrompido é como se algo estivesse faltando, pois esta mulher, que agora já é mãe, sofre por viver uma maternidade sem seu filho”, comenta.

Cada mulher passa por este luto de diferentes formas, mas sempre buscando conforto, amor e muito acolhimento de sua família. Por isso, Kellen explica que o apoio de quem está próximo a essa mãe enlutada, é muito importante. Afinal, não importa se a perda foi no ventre ou após décadas. Mãe é mãe e sofre a perda como qualquer outra pessoa. “Ouça essa mãe, deixe ela falar sobre tudo o que ela viveu durante este processo, que embora possa ter durado pouco tempo, é o suficiente para amar uma vida”, diz.

O Dia Mundial de Conscientização da Perda Gestacional e Infantil foi neste 15 de outubro, mas para Kellen, a sensibilidade deve ser praticada todos os dias do ano. “Neste dia tão especial, dedicado a pensar refletir sobre um assunto tão delicado e difícil é que nos sensibilizamos a falar de amor e afetividade durante a gestação! Precisamos saber que este período é de grande aprendizado, grande desafio para quem passa por isso, portanto as palavras mágicas são: AME e ACOLHA”, pede.

Prevenção

Muitas vezes, o aborto acontece espontaneamente, sem qualquer interferência da mãe. Aliás, quando algum problema é detectado, os médicos inclusive tentam diversos artifícios para manter a gravidez. 

Porém, segundo a coordenadora da atenção primária na secretaria de Saúde de Sombrio, Aline Cunha de Almeida, há alguns cuidados que ajudam a prevenir abortos espontâneos e promovem a saúde dos bebês ainda dentro do útero da mãe. “Tudo começa com o planejamento familiar. É desde o querer engravidar, preparar o corpo, saber suas condições clínicas. Saber se não há doenças ou infecções, uma fecundação pode ocorrer e haver uma evolução melhor”, explica. 

Dentre os problemas que a falta de planejamento pode causar estão a questão da aderência da placenta, hematomas, descolamento de placenta, má formação da placenta, tudo isso relacionado a problemas não diagnosticados previamente no útero. 

O aborto espontâneo é mais comum no primeiro trimestre de gestação, ou seja, até o terceiro trimestre. Após esse período, o número de abortos cai exponencialmente. “Mas ainda continuam acontecendo. Por exemplo, por deficiência de ferro ou outros nutrientes. Quando uma medicação é prescrita, ela precisa ser tomada. É preciso ter cuidado com as ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), como a sífilis, que pode levar a uma má formação no bebê, que pode não sobreviver nem à primeira semana de vida”, continua Aline. 

Doenças na mãe, quase todas evitáveis ou passíveis de monitoramento, também podem ocasionar abortos, como a diabetes gestacional, infecções urinárias, toxoplasmose e a hipertensão. Essas doenças são diagnosticadas e acompanhadas durante o pré-natal, outro método de prevenção de aborto ou morte fetal. “Se preconiza de nove a doze consultas, desde que a gravidez é identificada. No primeiro trimestre já se tem necessidade de tomar medicamentos que ajudarão no desenvolvimento embrionário, como o ácido fólico”, comenta a enfermeira.

Ainda segundo Aline, algumas mães começam o pré-natal tardiamente, dizendo que estavam deprimidas, não aceitavam a gravidez, o que também leva a problemas no feto.

Outro fator que pode complicar a gravidez é a idade da mãe, principalmente quando ela tem menos de 20 anos. Nesta fase, o útero ainda não está totalmente maduro e o músculo uterino ainda não está firme para a distensão que vem com a barriguinha crescendo. “Uma mãe muito jovem ou com mais de 45 anos pode, sim, ter mais chance de aborto ou natimorto”, declara a enfermeira.

Durante e depois do parto, os cuidados também devem se manter. Aline destaca a humanização no parto, o preparo da mãe para a amamentação, além da busca por mais informações. “Na mesma semana, depois do parto, é preciso buscar os serviços de saúde. Ali serão dadas orientações, será feito o Teste do Pezinho, para identificar qualquer alteração na criança, as primeiras vacinas, avaliação na pele do bebê. E posteriormente, até o primeiro ano de vida, se faz uma consulta por mês, para avaliar a criança”, completa.

São muitos cuidados, e a vida de gestante e mãe não é nada fácil, mas vivenciar uma gravidez com saúde, curtir com alegria essa fase tão especial na vida da mulher, e depois ter um bebê saudável e amado em casa, não tem preço. Vale a pena seguir a risca o que os médicos prescrevem, levar a sério cada consulta pré-natal e pensar que, quando se está grávida, não é só a saúde da mãe que vem em primeiro lugar, mas a dela e do bebê que ela carrega no ventre.